Se você gostou do filme “O Talentoso Ripley”, certamente vai adorar a nova série da Netflix que traz de volta a fascinante história de Tom Ripley.
Criado por Patricia Highsmith em seu romance Monsieur Ripley, publicado em 1955, Tom Ripley ganhou vida nas telas pela primeira vez no filme Plein Soleil (conhecido no Brasil como O Sol por Testemunha), uma produção francesa de 1960 dirigida por René Clément e estrelada por Alain Delon, Marie Laforêt e Maurine Ronet.
No entanto, foi através do filme “O Talentoso Ripley”, dirigido por Anthony Minghella em 1999, que o personagem realmente se popularizou. Neste thriller, Matt Damon encarna o jovem Tom Ripley, e ao seu lado, o memorável casal formado por Dickie Greenleaf e Marge Sherwood, interpretados respectivamente por Jude Law e Gwyneth Paltrow, traz vida a um cenário vibrante e envolvente.
Passados quase 25 anos desde essa adaptação, a trama cheia de surpresas e perigos de Tom Ripley continua a cativar a imaginação do público. Agora, a história retorna em forma de uma série de televisão produzida pela Netflix, oferecendo uma nova visão sobre esse personagem enigmático que transcende as décadas, ora de forma discreta, ora de maneira surpreendente.
A série traz Andrew Scott no papel de Tom Ripley, um homem sobre o qual pouco se sabe, exceto por sua disposição para fazer qualquer coisa para alcançar seus objetivos. O seriado, que conta com oito episódios em preto e branco, desvenda os complexos aspectos do personagem criado por Patricia Highsmith.
Particularmente, penso que uma das razões pela qual o personagem Tom Ripley atrai tanta atenção é a complexidade de sua natureza, que nos deixa constantemente questionando suas verdadeiras intenções e identidade. Ripley é um enigma: se o encontrássemos em um bar gay, não poderíamos afirmar com certeza que ele pertence àquele ambiente; igualmente, não poderíamos simplesmente classificá-lo como heterossexual.
Essa ambiguidade é frequentemente explorada na série através da personagem Marge Sherwood, que desde o início suspeita da relação entre Ripley e seu namorado Dickie, questionando a verdadeira orientação e os desejos ocultos de Tom. A natureza estranha de Ripley, onde ele é tanto ninguém quanto alguém totalmente único, levanta questões sobre sua relação com sexo, morte, família e amigos, tornando sua interpretação tão realista que parece que o ator não está apenas atuando, mas verdadeiramente encarnando o personagem.
É possível dizer quem é Tom Ripley e de onde ele é? Essa não é a pergunta certa. A pergunta que precisa ser feita é: para onde ele está indo?
Sem dar muito spoiler, a estória em linhas gerais se passa assim: um jovem americano que estava sem um tostão em Nova Iorque no início da década de 1960, superficialmente culto, como poucos de seus pares, sobrevive de pequenos golpes até ser abordado por um rico construtor de barcos cujo filho o conduz a uma “dolce vita” longe de suas obrigações, na Itália.
Tom Ripley, que, de uma farsa para outra, teria conhecido o jovem preguiçoso, é encarregado, financiado pelo Sr. Greenleaf de ir procurá-lo e trazê-lo de volta aos Estados Unidos. Ripley chega ao sul da Itália e se integra facilmente à vida boêmia de Dickie e Marge, sua companheira, a ponto de nutrir por ela uma obsessão doentia, almejando viver aquela vida feita de esplendor.
A partir daí acontecem lances de suspense impensáveis e somos atraídos pela curiosidade de como a trama irá se desenrolar.
A série da Netflix, dirigida pelo veterano Steven Zaillian, conhecido por filmes como A Lista de Schindler e O Irlandês, mergulha na escuridão do personagem e da história, optando por uma cinematografia em preto e branco que reflete essa atmosfera sombria. O roteirista e diretor traz sua experiência com complexidade, mistério e narrativas densas para esta adaptação, na qual Ripley, sempre um personagem misterioso, é interpretado com um equilíbrio perfeito entre obscuridade e manipulação.
O cuidado com a reconstituição de época é notável, desde os deslumbrantes cenários de Nápoles e Roma até os detalhes opressivos de uma Nova York cinzenta. A trilha sonora acompanha a narrativa, transportando-nos para uma Itália quase onírica, ora de maneira sutil, ora mais explícita, como no show de dublagem que Dickie apresenta a Tom.
Outro detalhe de tirar o folego é o excelente figurino escolhido para retratar mais uma obsessão de Ripley. Johnny Flynn, calça seu personagem Dickie com os mesmos mocassins de couro branco Gucci que Jude Law usou na versão de 1999. Por sua vez, Dakota Fanning veste perfeitamente as blusas imaculadas, as saias estampadas e o magnífico conjunto de jaquetas da personagem de Marge Sherwood.
Dirigida e escrita por Steven Zaillian, a série Ripley promete manter a tensão e a complexidade dos melhores thrillers, longe da leveza das comédias italianas e mais próxima do suspense pesado que caracteriza os trabalhos anteriores de Zaillian.
O criador da produção, Steven, ainda falou sobre a possibilidade da novidade ganhar novos episódios no futuro: "Existem outros livros e são muito bons", declarou em uma entrevista.
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