Coco Chanel: a revolução da elegância

Coco Chanel, cujo nome real era Gabrielle Bonheur Chanel, foi uma designer icônica de moda conhecida por suas ideias revolucionárias e sua abordagem na simplicidade e na elegância.

Chanel é famosa por popularizar o "Tubinho preto" e por apresentar roupas como por exemplo as jaquetas para mulheres e um estilo que influenciou significativamente a moda do século XX.

A transformação de Gabrielle à Coco: a vida da estilista

Chanel, nasceu em 19 de agosto de 1883 em Saumur, na França e teve uma infância difícil, marcada pela pobreza e pela perda de sua mãe quando ainda era criança, quando foi enviada para um internato em um convento, onde aprendeu a costurar e a desenvolver habilidades que mais tarde a ajudariam em sua carreira na moda.

A própria Chanel, ao longo da sua vida investiu na criação de um mito em torno de seu nome, incentivada por ela mesma e durante sua juventude enfrentou desafios consideráveis, mas também teve experiências que a moldaram.

Após sair do internato, ela trabalhou como costureira e cantora em cabarés, tais como o “La Rotonde”, na cidade de Moulin na região Auverne-Rhone Alpes., onde as duas únicas músicas de refrão quase idêntico que conhecia. “Qui qu’a vu Coco” (Quem foi que viu Coco) e “Ko-ko-ki-ko” eram seu carro chefe. Foi então que surgiu seu apelido, Coco, dado por rapazes do 10º Regimento de Cavalaria da Primeira Guerra Mundial, assíduos frequentadores do café.

Foi nesse mesmo café que anos depois ela conheceu Étienne Balsan seu primeiro amor e herdeiro de uma fábrica de tecidos e foi neste período que Coco se inspirou nos uniformes militares para criar um conjunto feminino em tricô. Nascia ali o “Twinset” (conjuntinho de blusa combinado a um casaco) que só veria o auge na década de 1950 quando Coco Chanel foi criar figurinos para filmes em Hollywood.

Tudo começou com chapéus

Mas voltemos a 1909 quando Coco se muda para Paris e a princípio se dedica a criar chapéus.

Uma amiga de Étienne Balsan, que era atriz da Comédie Française, introduziu esses chapéus na cena e rapidamente este acessório passou a ser desejado pela sociedade burguesa parisiense.

Chanel, influenciada pelas tendências da época e pelas transformações sociais, começou a criar roupas que rompiam com os padrões tradicionais, favorecendo o conforto e a elegância. Sua ousadia e inovação durante a juventude foram fundamentais para a criação de um estilo atemporal, pelo qual é reconhecida.

Ao introduzir roupas que priorizavam o conforto e a simplicidade, ela desafiou os padrões convencionais da época. Sua criação do "traje de marinheiro” destacou a sua capacidade de reinventar a elegância.

O sucesso foi tanto que Audrey Hepburn e Brigite Bardot aderiram a peça e ajudaram muito a populariza-la.

O nascimento do perfume mais famoso do mundo

A introdução do perfume Chanel No.5 tornou-se uma inovação na indústria de fragrâncias, consolidando ainda mais a potência da marca. A ousadia de Coco Chanel conquistou a admiração de figuras influentes da época, como também de mulheres que buscavam uma moda mais livre e confortável ainda que à revelia de seus maridos.

A historia da criação desse perfume é longa e cheia de emoções. Graças ao perfumista russo Ernest Beaux, Chanel conseguiu desenvolver uma das fragrâncias mais apreciadas do universo feminino. Chanel No.5 contou com a introdução do Aldeido, que, entre outras utilidades serve também como fixador de perfumes, algo inédito até então dado que, até ali as mulheres tinham de se perfumar várias vezes ao dia. Esta também é uma das razões para este perfume ter se tornado tão icônico. Além disso, em sua composição havia uma alta concentração do Absoluto da Rosa de Maio, uma flor.

Coco Chanel e Pierre Wertheimer, que era um empreendedor muito ambicioso, estabeleceram uma parceria nos anos 1920 para produzir e comercializar o famoso perfume. Pierre investiu significativamente no negócio. A relação comercial entre os dois sempre foi tensa ao longo dos anos devido a disputas contratuais. Chanel desejava uma participação maior nos lucros, enquanto Wertheimer estava comprometido com os termos do contrato existente. Em 1947, após anos de negociações financeiras, um acordo foi alcançado entre Chanel e os irmãos Wertheimer (Pierre e seu irmão Paul) onde Chanel recebeu um pagamento único e desistiu de quaisquer direitos futuros sobre as vendas de perfumes Chanel No. 5. Isso garantiu a continuidade do negócio sob o controle dos Wertheimer.

Chanel e as celebridades da época

Coco Chanel interagiu com diversas personalidades, tanto no mundo das artes e teve conexões com artistas, escritores e músicos, incluindo nomes como Pablo Picasso, Igor Stravinsky e Jean Cocteau. Sua rede de contatos se estende a círculos sociais diversos, o que contribuiu para sua visibilidade e reconhecimento.

Coco também colaborou com outros designers e influenciou muitos deles. Sua amizade com Salvador Dalí, por exemplo, foi comprovada em colaborações criativas. Sua habilidade em transcender fronteiras sociais e culturais contribuiu para sua notoriedade e impacto na cultura e na moda, ainda que com muita persistência.

Ela se tornou uma artista da moda de renome e suas criações únicas atraíram a atenção de mulheres influentes e famosas tais como Audrey Hepburn, a atriz que era uma grande fã das criações de Chanel e usava vários de seus vestidos em eventos e filmes. Outras atrizes que seguiram fielmente criações de Coco eram Elizabeth Taylor e Marilyn Monroe, sendo que esta última declarou que, para dormir só usava 2 gotas de Chanel n.5.

Além dessas personalidades já citadas há de se lembrar a grande admiração que nutriam por Coco as atrizes Brigitte Bardot e Grace Kelly assim como também a Primeira Dama Americana Jacqueline Kennedy.

Chanel não apenas vestiu celebridades, mas também se envolveu em relacionamentos pessoais com muitas delas. Sua abordagem inovadora da moda e seu senso de estilo atraíram mulheres que buscavam algo diferente e distinto. A influência de Chanel no mundo das celebridades contribuiu para a divulgação de seu legado e de seu estilo singular.

Chanel e o balé

Coco Chanel teve uma ligação interessante com o mundo do balé, colaborando com o famoso empresário russo Serge Diaghilev e sua companhia de balé Ballets Russes, criando figurinos para algumas produções. Um momento notável foi o balé "Le Train Bleu" em 1924, onde ela projetou roupas esportivas elegantes e modernas na audaciosa coreografia de Bronislava Nijinska, irmã do icônico Vaslav Nijinsky. para a música de Darius Millhaud e que contava também com os cenários de Jean Cocteau;

Ela trouxe elementos do vestuário de balé, como saias de tutu e detalhes delicados, para suas roupas do dia a dia, incorporando um senso de graciosidade e fluidez em seus designs. Sua capacidade de trazer elementos da dança para a moda a projetou para um patamar ainda mais alto.

Em 1928 estreou em Paris com retumbante sucesso o ballet “Appolon Musagète” de George Balanchine com figurinos de Chanel e música de Igor Stravinsky, com o qual ela vivenciou um tórrido romance, mesmo o compositor sendo casado e pai de vários filhos.

Chanel era muita amiga de Sergei Diaghilev e financiou muitas das obras dos Ballets Russes. Na morte do empresário, Chanel fez questão de oferecer-lhe um funeral de muita pompa e bancou todos os detalhes da cerimônia e até o túmulo em Veneza.

O grande amor de Chanel

Seu grande amor foi o campeão inglês, jogador de Polo chamado Boy Capel, que durou 10 anos. Apesar de Capel nunca ter se casado com Chanel e sim com uma jovem de origem nobre britânica, continuou a se encontrar regularmente com Coco, até a sua trágica morte num acidente de carro na França em 1919.

Chanel também contou com uma relação muito íntima com a pianista Mísia Sert que, por muitos anos, foi sua musa inspiradora. As duas viveram juntas na Suíça durante o período de exílio pós Segunda Grande Guerra, onde Chanel julgava o ambiente social muito pesado para ela na França devido ao seu caso com um oficial das tropas alemãs. Comenta-se que Chanel e sua devotada amiga dividiram muitos namorados ao longo de suas vidas.

Velhice

Coco Chanel viveu uma vida longa e notável vida e continuou a ser uma figura influente até o final, mantendo até ali a sua influência e dedicação à moda. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, a sua posição na indústria foi comprometida devido à ocupação nazista na França. Depois da guerra, ela teve um período de reclusão, mas retornou, como uma Fênix à cena da moda nos anos 1950.

Coco Chanel faleceu em 10 de janeiro de 1971, aos 87 anos, em Paris. Sua morte marcou o fim de uma era na moda, mas seu legado continuou a inspirar criadores e a influenciar a indústria, pois sua marca permaneceu forte contando futuramente com a colaboração criativa e provocadora de Karl Lagerfeld.

O legado de Coco Chanel

O legado de Coco Chanel é uma fusão de inovação e ruptura com os padrões estabelecidos, e sua influência perdura através das décadas, continuando a moldar conceitos de moda e de cultura.

Chanel revolucionou o vestuário ao introduzir roupas que priorizavam a simplicidade, o conforto e a elegância. Ela cortou as barreiras de gênero, trazendo elementos do guarda-roupa masculino para as roupas femininas criando peças icônicas como o “Tailleur” (traje de casaco e saia) que ainda é considerado fundamental na moda atual.

Chanel dinamizou o uso de tecidos como jersey, até então menosprezado e também popularizou o uso da cor preta, até então aprisionada só para ocasiões de luto.

Ela também inovou em acessórios, como colares de pérolas, bolsas matelassê e sapatos bicolores, muitos dos quais permanecem populares até hoje.

Chanel entendeu a evolução do papel da mulher na sociedade e projetou roupas que se adequassem a um estilo de vida ativo e dinâmico.

Além de suas criações, ela circulou um modelo de negócios que continua a ser uma referência para a indústria da moda até os dias de hoje.

A marca Chanel permanece como um dos ícones mais reconhecidos e valiosos no mundo, não pertencendo a nenhum grupo, mantendo-se como uma marca familiar sem perder a essência e a estética.

A marca também abraçou as redes sociais e a tecnologia para se conectar com a geração mais jovem, mantendo-se relevante e acessível.

Além das roupas e acessórios, a Chanel também está envolvida em cosméticos, fragrâncias e alta joalheria, expandindo ainda mais sua presença global.

A história envolvendo Coco Chanel e Pierre Wertheimer é uma mistura de colaboração bem-sucedida e conflitos comerciais e pessoais. O perfume Chanel No. 5 é um ícone, e os Wertheimer mantiveram um papel fundamental na preservação e expansão desse império ao longo das décadas. Nos dias de hoje os netos de Pierre Werheimer são os donos da marca Chanel com aproximadamente 200 boutiques em todo o mundo.

Com a saída de Karl Lagerfeld, que foi o diretor artístico da marca por muitos anos, Virginie Viard assumiu temporariamente esta posição, trazendo um novo fôlego para a criação das coleções.

Nota de rodapé

Em 2005 a peça “Mademoiselle Chanel” interpretada pela atriz brasileira Marília Pêra fez 8 apresentações na Comédie des Champs-Elysées e mereceu elogios de Karl Lagerfeld e da alta cúpula da Maison Chanel.

Os jornalistas franceses também demonstraram surpresa com o fato de uma peça sobre a história da França, sobre um mito francês, ter sido tão bem escrita e dirigida por estrangeiros. A montagem, a produção primorosa e a brilhante interpretação de Marília Pêra foram noticiados pelos jornais, revistas e televisões locais.

Com texto de Maria Adelaide Amaral, direção, cenografia, iluminação e trilha sonora de Jorge Takla, Mademoiselle Chanel teve seus figurinos confeccionados em Paris pela própria Maison CHANEL.

Tindaro agradece ao amigo Augusto Sargo, ex-formateur e maquiador da Maison Chanel no Brasil.