O canivete suíço é provavelmente um dos objetos mais icônicos e facilmente reconhecíveis do mundo. Sua importância é tal, que extrapolou o objeto em si, sendo utilizado como sentido figurado tanto para se referir tanto a algo que tenha muitas funções úteis quanto a uma pessoa que seja versátil e multitalentosa, capaz de lidar com uma variedade de tarefas e situações.
E essa fama não veio por acaso, sendo conquistada ao longo de uma incrível e centenária trajetória.
O surgimento do canivete suíço
Embora não tenha inventado o canivete, a Suíça teve por mérito popularizá-lo.
Tudo começa no final da década de 1880, quanto o exército nacional adotou os recém-criados rifles Schmidt-Rubin M1889, modelo que necessitava de uma chave de fenda para sua manutenção regular. Visando a praticidade e eficiência, decidiram fornecer conjuntamente uma faca multifuncional, que além de ser capaz de desmontá-lo, também permitisse abrir latas e garrafas, unindo em apenas um item ferramentas indispensáveis que antes eram carregadas separadamente.
E foi vendo nessa mudança de equipamento uma grande oportunidade de lucro, que o suíço Karl Elsener, proprietário de uma fábrica de facas e instrumentos cirúrgicos, fundou a Associação dos Cuteleiros Suíços, e obteve o contrato de fornecimento do Modell 1890.
Fundada em 1894 como Messerfabrik Carl Elsener, a empresa foi rebatizada para "Victoria" em 1909, em homenagem ao falecimento da matriarca da família, novamente em 1921, quando foi a junção com a palavra inox criou a “Victorinox” que conhecemos hoje.
Embora atendesse as especificações do exército, o Modell 1890 era uma faca volumosa e pesada. Insatisfeito, Elsener desenvolveu uma versão leve e aprimorada, com novas funcionalidades, agora dispostas em ambos os lados do cabo por meio de um mecanismo especial com molas, utilizado até hoje, e capaz de manter as ferramentas no lugar. A nova versão foi patenteada em 12 de junho de 1897, sob o nome de Schweizer Offiziers- und Sportmesser.
Este avanço no design levou a empresa a produzir muitos outros canivetes engenhosos, com ferramentas específicas para cada demanda, e que estavam disponíveis para compra privada em lojas de cutelaria. Mas apesar de ter criado o primeiro canivete genuinamente suíço, Elsener não detinha o monopólio sob a fabricação do item para as Forças Armadas, que decidiu dividir, a partir de 1908, o fornecimento com a concorrente Wenger, únicas empresas legalmente autorizadas a usarem o termo Canivete do Exército Suíço em referência a seus produtos. Contudo, essa segmentação acabou em 2005, quando a Victorinox adquiriu a rival e se tornou a única fabricante de canivetes suíços.
A segunda grande virada de chave na história da empresa se deu a partir do final da Segunda Guerra Mundial, quando os soldados americanos estacionados na Europa passaram a comprá-los como souvenir. Dali em diante, a popularidade deslanchou e o produto conquistou o mundo, se tornando item do acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York, tomando as vitrines das lojas em mais de 120 países, e chegando a 500 milhões de unidades vendidas em 2017.
Atualmente, a marca produz cerca de 10 milhões de unidades por ano, divididas em mais de 400 diferentes modelos. E mesmo com tamanho mercado e capilaridade mundial, a empresa mantém as raízes fincadas no território suíço, tudo sob a supervisão de Carl Elsener IV., bisneto do fundador.
Meu gosto por canivetes
Meu interesse pelos simpáticos canivetes suíços começou cedo. Ainda criança, me recordo de ver meu pai utilizar um pequenino Victorinox Classic, que dormia na gaveta do criado ao lado de sua cama, e invejar meus irmãos mais velhos, que ganharam o mesmo modelo para utilizar como chaveiro.
Contudo, por um acaso do destino, vim a ter meu primeiro canivete suíço não por presente de meu pai, mas acreditem, como brinde encontrado no interior de uma lata de achocolatado, por volta dos 8 anos.
E embora presentear uma criança com um canivete possa parecer inimaginável para alguns hoje em dia, era uma prática normal no passado, em uma época em elas que colhiam e descascavam frutas, faziam e consertavam os próprios brinquedos, usavam lâminas para apontar seus lápis, e se viravam com muito mais independência.
Manusear um canivete ajuda na formação da coordenação motora, incentiva a autonomia, inventividade, inteligência. E em um mundo cada vez mais digital, felizmente é uma tradição que a Victorinox tenta manter viva, produzindo canivetes adequados tanto para os pequeninos realizarem trabalhos manuais com segurança, quanto para atender as necessidades dos mais crescidos , sendo um item indispensável também para escoteiros.
Voltando ao relato, utilizei o pequeno canivete encontrado na lata do achocolatado até meus 14 anos, quando fui estudar em tempo integral em um colégio técnico, localizado em um enorme campus universitário. E como ficaria o dia todo longe de casa, decidi que era a hora de comprar um canivete maior e com mais funções para me acompanhar.
Eternamente em meu bolso ou mochila, este canivete esteve comigo e fez parte de todas as viagens de minha juventude, seja abrindo garrafas e cortando alimentos num simples piquenique...
Ou me acompanhando em aventuras, estando lá à disposição em caso de necessidade ou emergência.
Com o passar dos anos, fui adquirindo novos modelos, para diferentes usos e ocasiões. Na gaveta de minha mesa de trabalho em casa reside um SwissChamp de 33 funções, que substitui toda uma caixa de ferramentas, possuindo facas, serras, alicate, tesoura, chaves de fenda e philips, lixa, abridores de garrafas, latas e até uma lente de aumento. E eternamente em meu bolso dorme seu irmão menor, um MiniChamp que utilizo como chaveiro.
E hoje menos demandando, meu Camper, de 20 anos de idade, aguarda pacientemente para cumprir uma promessa que fiz quando o adquiri: presentear meu filho(a) com ele na mesma idade que ele entrou na minha vida, aos 14 anos. Se à época do juramento esta parecia uma tarefa dificílima, hoje, após duas décadas de uso, vejo que a maneira mais fácil de um canivete não te acompanhar por toda a vida é o perdendo.
Afinal, além de terem garantia vitalícia contra defeitos de fabricação, é possível, em caso danos por uso ou mesmo perda das peças móveis, enviá-los para a assistência para serem reparados, mesmo após décadas de uso como o meu.
Brinco que conhecendo a qualidade com que são fabricados, não tenho dúvida que daqui milhares de anos os arqueólogos do futuro escavarão os Victorinox que usamos hoje, e eles ainda estarão em condição de uso com apenas uma enxaguada e lubrificada.
Porque você também deveria ter um
Carregar um canivete consigo é, na minha opinião, um item indispensável de EDC ou "Everyday carry", designação em inglês para o conjunto de itens úteis que as pessoas carregam consigo diariamente. Para além das indispensáveis chaves e celular, acredito que nenhum outro item seja tão útil para se ter sempre por perto que um canivete.
E isso sem acrescentar quase nenhum peso ou volume. O modelo campeão de vendas, Classic SD, têm somente 22g, e mesmo meu MiniChamp com 16 funções pesa apenas 40g, sendo mais leve que as chaves que o acompanham, e um quinto do peso de um iPhone. Mas apesar de tantas utilidades em um corpo tão leve e compacto, ainda sim é comum as pessoas acharem curioso ou até exagerado andar com um canivete a tiracolo. No entanto, é ao nos habituarmos a ter um por perto que percebemos a falta que fazem quanto não estão a mão.
São tão úteis que não por acaso uma das séries televisivas mais famosas sobre agentes secretos tem em seu personagem principal um fiel adepto do item. A trama “MacGyver - Profissão: Perigo” relata a história de um cientista que serviu na Guerra do Vietnã como técnico da brigada antibombas. Versátil e possuidor de um conhecimento enciclopédico, o agente resolve problemas complexos criando soluções a partir de objetos comuns, na maior parte das vezes com a ajuda do seu canivete suíço.
Noutro exemplo que bem poderia ser obra de ficção, temos a Agência Espacial Americana - NASA, que em 1978 comprou cinquenta canivetes Victorinox Master Craftsman para a tripulação do ônibus espacial, o que levou a empresa a fabricar nos anos seguintes versões alusivas a parceria.
A NASA partiu da máxima dita anteriormente para munir seus astronautas com canivetes: é melhor ter, e não precisar, do que precisar, e não ter. E eles de fato precisaram.
No livro " An Astronaut’s Guide to Life on Earth ", Chris Hadfield, um astronauta canadense que passou mais de 4.000 horas no espaço, relata que em determinada missão espacial precisava atracar o ônibus espacial Atlantis à estação espacial russa Mir, e não conseguia fazê-lo com as ferramentas fornecidas. Até que finalmente se lembrou de seu canivete suíço e concluiu o trabalho. E então cravou umas das frases mais marcantes sobre o item:
“Never leave the planet without one!”
Astronauta Chris Hadfield ao usar seu canivete suiço em uma missão espacial.
Um presente para a vida toda
Estando comigo há cerca de 7300 dias, posso afirmar, com um espanto de quem fez essa conta pela primeira vez na vida, que meu Victorinox Camper, comprado por 57 reais em 2003, já me custa hoje menos de 1 centavo por dia. É provavelmente uma das coisas mais úteis e baratas que comprei na vida.
E exatamente por ter tanta admiração por essas ferramentas que acredito serem um dos melhores presentes que se pode dar a alguém. Não só pela utilidade em si, mas porque num mundo de tantas coisas descartáveis, são objetos que atravessam gerações, carregam lembranças, histórias, e eventualmente, ainda podem salvar sua vida, como já fizeram tantas vezes.
Nesse Dia dos Pais, a Oficina fez uma parceria com a Victorinox com dois canivetes exclusivos. Em compras acima de R$1.999 você ganha um canivete Victorinox 9 funções e acima de R$2.499, um de 12 funções!
Como dito, da criança ao adulto, do agente secreto ao astronauta, para cada pessoa e ocasião, há sempre um modelo de canivete que será adequado. Escolha um, e presenteie a quem você ama. Ou mesmo se presenteie com um hoje, para quem sabe presentear futuramente seu filho com a mesma peça, como pretendo fazer.
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